A decisão do Supremo de pôr fim à obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão (junho de 2009), não alterou o mercado midiático. As empresas continuam optando pelo profissional com formação superior, salvo exceções de alguns que já atuavam na área há tempo. Porém, os estudantes de Jornalismo se viram traídos e as faculdades sem argumentos para atrair os futuros profissionais.
Existem projetos de lei, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, já aprovados nas comissões de Constituição e Justiça, que exigem o diploma universitário. Pelas manifestações dos parlamentares, as propostas devem ser aprovadas e transformadas em lei federal. Enquanto isso não acontece, o mercado define as regras. O próprio presidente do STF, Gilmar Mendes, afirmou na época que a formação em Jornalismo “é importante para o preparo técnico dos profissionais e deve continuar nos moldes de cursos” e que as empresas de comunicação devem determinar os critérios de contratação. “Nada impede que elas peçam o diploma em curso superior de Jornalismo”, disse.
Os conhecimentos específicos e o estudo da língua portuguesa confirmam a importância da formação acadêmica para o exercício da profissão. O gerente de Ensino Ibes-Sociesc, Anselmo Medeiros, acredita que, mesmo com toda a complexidade do mercado profissional sempre com informações, o que vale não só para os jornalistas mas todas as profissões é o conhecimento. “O mercado de trabalho objetivamente vai contratar as pessoas mais preparadas e cabe ao aluno buscar o conhecimento”, ressalta, lembrando que perguntou ao editor-chefe da Ric Record, Alexandre Gonçalves, se contrataria um profissional não-diplomado.
A resposta foi que o conhecimento é a matéria-prima do profissional e quem dá esse conhecimento é a universidade. Para Medeiros, a tendência é as empresas de comunicação continuarem a contratar profissionais diplomados.Para a professora do curso de Jornalismo da Univali, Valquíria Michela John, a formação vai além das questões técnicas. “Como em qualquer outra profissão, é preciso dominar a técnica, mas também ter conhecimentos sobre legislação e ética que regulam nossa sociedade”, defende, criticando o senso comum que para ser bom jornalista é preciso apenas escrever bem. “Claro que é fundamental, mas um dos diferenciais é promover a discussão e conhecer o impacto social das informações levantadas”, argumenta.
Sobre a retomada da obrigatoriedade do diploma, Valquíria aposta que a discussão ainda levará um bom tempo em função da pressão e dos interesses em jogo. “De um lado, há o interesse da classe, que precisa de uma regulamentação séria. De outro, veículos de comunicação que querem o poder de selecionar os profissionais adequados”, diz.AlunosPara a estudante do quinto semestre de Jornalismo do Ibes-Sociesc, Letícia Maria Klein, todo o profissional precisa ter uma base teórica para atuar. “O curso de graduação faz toda a diferença, tanto na teoria quanto na prática e com certeza a empresa vai optar pelo profissional diplomado”, acredita, justificando a opção pelo término do curso.
Já a aluna do novo semestre de Jornalismo da Univali, Renata de Almeida, defende a formação acadêmica “porque existe uma construção por trás da notícia jornalística, diferente de qualquer texto de escola”. Na opinião dela, A importância da formação superior está na teoria que é muito mais complexa do que parece e pode melhorar e muito a qualidade dos jornais.“O diploma é o reconhecimento do esforço que o acadêmico teve em adquirir uma formação superior, bastante exigida no mercado de trabalho. Não levar um diploma a sério é o mesmo que banalisar a educação, e isso está se tornando recorrente no País”, diz, apostando que o diploma agrega valor. profissional muito mais alto do que simplesmente ter conhecimento sobre o assunto.
Leis nos estados e municípiosEm outubro, deputados Erika Kokay e Chico Leite apresentaram projeto de lei à Câmara Legislativa do Distrito Federal que torna obrigatória o diploma de curso superior em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, para o exercício da profissão nos órgãos públicos na administração direta e indireta do Governo de Brasília. No mês seguinte, o deputado estadual baiano Javier Alfaya apresentou proposta semelhante. O projeto inclui os cargos da administração direta e indireta, englobando todas as autarquias, fundações, empresas públicas e de capital misto da Bahia.
Na semana passada, foi sancionado o projeto de lei, de autoria dos vereadores Adriano Ventura e Luzia Ferreira, que torna obrigatório o diploma de Jornalismo para a atuação como assessor de imprensa ou jornalista nos poderes Legislativo e Executivo de Belo Horizonte. Em Baueri, São Paulo, o vereador Agnério Neri Ferreira entrou com projeto que exige que os poderes Executivo e Legislativo só contratem em concurso público e para cargos em comissão jornalista diplomado. Outros estados e municípios estão criando leis exigindo o diploma superior nos âmbitos dos poderes.
O vereador Vanderlei de Oliveira promete analisar o assunto e, caso julgue procedente, apresentar projeto semelhante na Câmara de Blumenau nos próximos dias.
Fonte: Folha de Blumenau
Nenhum comentário:
Postar um comentário